De súbito, sinto-me tomado pela vida. Não guardo nenhuma vontade especial, tampouco me vejo inclinado a mudar o mundo. Ouço apenas o som das teclas sob os meus dedos enquanto escrevo alguns de meus pensamentos, supostamente, a esmo. Turbilhões de experiências minhas, de outros e de outros mais me voltam a reflexões sobre tudo o que tenho aprendido de bom e de ruim. Tento fazer delas lições que me melhorem a senda e, por isso, deixo que minha consciência entre em devaneios filosóficos, ao mesmo tempo em que me puxa para o concreto sob os meus pés.
Não, não se trata de epifanias ou elucubrações sem sentido; apenas do ímpeto de escrever e deixar fluir o fel e a doçura de viver. A impressão que tenho é que buscamos todos alguma coisa que ainda não descobrimos o que é. Porém, essa busca é tão incessante que chega a ser incômoda por enormes instantes. Estamos felizes e estamos tristes, bastando, para isso, pensarmos nisso ou naquilo, nesse ou naquele aspecto da nossa tão ávida existência. Os problemas são os mesmos. As razões da felicidade, também.
Cito, recito, e vejo que, no fim, nunca terminei de dizer o que devia – ou o que queria. O imediatismo tão característico de nossos desejos faz de nós criaturas impacientes. Quantos de nós observariam o desabrochar de uma flor sem aquela pontada de ansiedade? E quantos receberiam com a mesma benevolência um aprendizado amargo e uma satisfação fugaz, por mais célere que fosse?
Muito pertence aos poderosos (de fato?), mas quão verdadeiro é esse poder? Pergunto-me além: o que é esse tão cobiçado laurel (laurel?)? Por vezes, parece confundir-se com o querer efetivamente possível e realizável. Mas, simultaneamente, mistura-se ao estigma das posses materiais ou da dominação dos ditos fortes sobre os fracos.
A cada dia, abrimos e fechamos lacunas em nossos caminhos. Acredito depender isso única e exclusivamente das nossas próprias escolhas, mas como é difícil admitir! Errando, costumamos preferir a justificativa ao crescimento. Exceções? Muitas, felizmente. Quando forem todas, seremos, certamente, mais harmônicos. E mais melódicos também. Quem sabe, incorporar um pouco de loucura consciente não seja a saída para os nossos atormentados corações? Ignorar, por segundos, o controle social, as convenções, o lugar comum? Deixemo-nos. Vivamos. Eternizemo-nos. E saibamos que o poder como o concebemos é tão efêmero quanto a própria vida.
Belo Horizonte, 4 de novembro de 2004 – 1:39.
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