Alfarrábios (IV)

Ultimamente, tenho andado meio descrente do mundo. E não obstante o meu desejo de escrever, tem sido difícil terminar os ditos, os contos, as reflexões… Aí tudo vira um monte de rascunhos. E por aí comecei a ler de novo o que andava escrevendo nos idos de uma vida passada. Breve, recente, mas passada. E resgatei um texto que me lembrou um eu mais otimista. E acabei me lembrando também que, à época, esse mesmo texto inesperadamente emocionou duas amigas muito queridas que já não vejo há algum tempo. Bom, aí vai.

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Se eu morresse hoje…

… Eu agradeceria a Deus por ter me permitido viver. Por ter me concedido cada instante que, inequivocamente, passei na Terra. Eu me ajoelharia a Seus pés e reconheceria quão valiosas haviam sido as lições que aprendi.

Eu agradeceria por ter pisado na grama descalço e por ter sentido as águas correrem sob os meus pés quando senti o mar pela primeira vez. Pelas inúmeras belezas que vi, desde as maravilhas da natureza até as que foram construídas pelos homens. Pela música que tantas vezes correu pelos meus ouvidos, emocionando-me. Pelo gosto de cada sabor, desde o amargo até o doce.

Eu agradeceria pelos ternos abraços das minhas avós e pelas comidinhas gostosas que elas me permitiram provar. Pela sabedoria de meus pais, que me ensinaram a ser uma pessoa de caráter e a respeitar àqueles que de mim se acercassem. Pelo carinho das minhas irmãs, que nunca me deixaram só.

Eu agradeceria cada prazer que me foi dado viver, em cada um dos sentidos e em todos os sentidos. Pelo primeiro beijo. Pela primeira transa. Pela sensação divina de me sentir amado por uma mulher. Pelos amigos inesquecíveis, lembrando sempre que a amizade é das formas mais perfeitas de amor.

Se eu morresse hoje, eu agradeceria a todos os que me fizeram o bem, porque me ensinaram a amar. E agradeceria também aos que me fizeram mal, porque me permitiram aprender a ser o que hoje sou.

A todos, muito obrigado.

Belo Horizonte, 22 de novembro de 2004 – 23:43.

(Publicado originalmente às 20h18 de 24/11/2004, em http://marcosarthur.blogspot.com.)

Marcos Arthur Escrito por:

Inquieto. Curioso. Companheiro da Marina e pai do Otto. Ultramaratonista. Facilitador de aprendizagem. Sócio-fundador na 42formas. Escritor amador. Eterno aprendiz.

Um comentário

  1. Paloma
    19/12/2011
    Responder

    Que lindo, Marquito!

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