Alguma vez em sua vida você já se sentiu verdadeiramente incomodado? Daquelas sensações que atormentam, atormentam, a ponto de você questionar a sua concepção do que é bom e o que é ruim? Daqueles existencialismos que não permitem que você distinga uma dor de dente de uma cólica intestinal só porque ambas são igualmente dores?
É assim que me sinto agora. Meio perdido, inteiramente absorto naquelas reflexões que a gente só faz depois de ter se embriagado, perdido o senso da razão e até da própria emoção. Mais “solto”, menos “vigilante” estaria eu? Certamente que a resposta não me vem à mente. Do contrário, estaria eu questionando tais absurdos? Absurdos, sim, mas quem não é?
Os ditos racionais acreditam-se imunes dos rompantes, ímpetos e indagações oníricas. Os supostos emocionais desviam-se, desvairam-se, contorcem corpos e mentes numa dança vertiginosa, quase insana. Mas ambos, em dado momento, vêem-se ludibriados pelo erro. Pela decisão desacertada. Os dois culpam algo ou alguém, mas dificilmente aceitam o fardo. Seja da derrota ou da vitória.
Estou certo de que o leitor supõe que estou angustiado. Quer saber? Nem mesmo eu sei dizer. E quem disse que eu deveria (saber) (dizer)? Vamos deixar isso pra lá e pensar no futuro (passado) (presente). Lembrar (esquecer) das coisas boas (ruins) e permitir escapar suspiros de memórias, fatos temporais, planos para o amanhã…
É um daqueles momentos em que não desejo crescer, ainda que isso me aconteça forçadamente pela experiência. Vou deixando levar-se a poesia, o decreto da natureza (se é que isso existe). Vou me cansando de pensar, viajar, sair de mim e entrar nos vãos shakespearianos da filosofia humana. Porque entre o céu e a terra pode haver muito, mas muito mais pode haver no pequeno grão de areia ou na gota d’água que supostamente povoam o deserto e o mar, respectivamente. Afinal, alguém aí já ouviu falar de “ponto de vista”?
O incômodo continua e a escrita não alivia aquela sensação de parada respiratória, de redução dos batimentos cardíacos, de perda dos sentidos. Quem sabe talvez não seja isso o necessário para que a minha vida seja vida durante tantos anos a fio? E quem sabe talvez não seja por isso que viver, viver de verdade não seja tão maravilhosamente bom?
Belo Horizonte, 17 de novembro de 2004 – 1:48.
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