Esta noite
sentei-me na sarjeta
e não esperava nada
nem mesmo o chorume que escorre
despretensioso
carregando os vãos e desvãos
da impiedade humana

Dediquei-me, sem fé
aos desvalidos da sorte
sem entranhas

Entreguei-me, de pé
à pulsão da morte
sem estranhas

concepções de vida pregressa
fixadas no inconsciente, mente

enxerguei os animais
aqueles que se aproximavam
inermes
estava são
verdadeiro
e cru

Balbuciei uns pensamentos
do fundo do olvido
e estava só, porém
cheio
das companhias estéreis
que murmuram as sombras do amanhã

Mas não esperava nada
de nada e de depois do nada
mas escutava algo, sim

Eram insetos

Incautos
orbitavam no entorno
do meu pescoço nu
em busca do sangue quente de outrora
mas este era frio

Um homem, em terno
tossia
os olhos vidrados
eu pouco me importava com seus passos
trôpegos
em melancolia via

Eu era vil
somente vil

irremediavelmente sóbrio

Marcos Arthur Escrito por:

Inquieto. Curioso. Companheiro da Marina e pai do Otto. Ultramaratonista. Facilitador de aprendizagem. Sócio-fundador na 42formas. Escritor amador. Eterno aprendiz.

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