Esta noite
sentei-me na sarjeta
e não esperava nada
nem mesmo o chorume que escorre
despretensioso
carregando os vãos e desvãos
da impiedade humana
Dediquei-me, sem fé
aos desvalidos da sorte
sem entranhas
Entreguei-me, de pé
à pulsão da morte
sem estranhas
concepções de vida pregressa
fixadas no inconsciente, mente
enxerguei os animais
aqueles que se aproximavam
inermes
estava são
verdadeiro
e cru
Balbuciei uns pensamentos
do fundo do olvido
e estava só, porém
cheio
das companhias estéreis
que murmuram as sombras do amanhã
Mas não esperava nada
de nada e de depois do nada
mas escutava algo, sim
Eram insetos
Incautos
orbitavam no entorno
do meu pescoço nu
em busca do sangue quente de outrora
mas este era frio
Um homem, em terno
tossia
os olhos vidrados
eu pouco me importava com seus passos
trôpegos
em melancolia via
Eu era vil
somente vil
irremediavelmente sóbrio
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